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DIPLOMA DE HONOR

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EXCELENCIA POESÍA

Friday, September 9, 2011

Machado de Assis dialoga com outras linguagens.

Machado de Assis dialoga com outras linguagens.


Mateus Andrade
Data: 09/09/2011
Introdução:

Sendo considerado o maior representante de um dos mais importantes movimentos literários do país, o Realismo, Machado de Assis tornou-se um gênio da literatura brasileira graças às suas obras que têm grande reconhecimento até hoje. Um das principais justificativas para tal feito é a atualidade com que boa parte dos temas explanados por ele ainda é muito presente na realidade do Brasil, como é o caso de “O relógio de ouro”, “O empréstimo”, “Último capítulo” e “A sereníssima República”. Este último é o que “dialogará” neste trabalho com uma obra famosa de Lima Barreto, Os Bruzundangas. Entre eles será feito uma comparação de acordo com alguns tópicos, percebendo as semelhanças e diferenças de uma obra de 1882 com outra de 1923, as quais possuem em comum o tema política.

Desenvolvimento.

Fragmento do livro Os Bruzundangas de Lima Barreto, pertencente ao quarto capítulo, “A Política e os Políticos da Bruzundanga”:

A minha estadia na Bruzundanga foi demorada e proveitosa. O país, no dizer de todos, é rico, tem todos os minerais, todos os vegetais úteis, todas as condições de riqueza, mas vive na miséria. [...] Entretanto, o povo só acusa os políticos, isto é, os seus deputados, os seus ministros, o presidente, enfim.
O povo tem em parte razão. Os seus políticos são o pessoal mais medíocre que há. Apegam-se a velharias, a cousas estranhas à terra que dirigem para achar solução às dificuldades do governo.
A primeira cousa que um político de lá pensa, quando se guinda às altas posições, é supor que é de carne e sangue diferente do resto da população.
O valo de separação entre ele e a população que tem de dirigir faz-se cada vez mais profundo. [...]
Aliás, na Bruzundanga, não há sujeito ateu ou materialista em regra que, ao se casar com mulher rica, não se faça instantaneamente católico apostólico romano. Assim fez esse meu antigo colega.
Esse homem, ou antes, este rapaz, que tão rapidamente se passou de uma idéia religiosa para a outra, esse rapaz cuja insinceridade é evidente, é ajudado em todas as suas pretensões, veleidades, desejos, pelos bispos, frades, padres e irmãs de caridade.
As irmãs de caridade gozam lá na Bruzundanga, de uma, influência poderosa. Não quero negar que, como enfermeiras de hospitais, elas prestem serviços humanitários dignos de todo o nosso respeito; mas não são essas que os cínicos ambiciosos da Bruzundanga cortejam. Eles cortejam aquelas que dirigem colégios de meninas ricas. Casando-se com uma destas, obtêm eles a influência das colegas, casadas também com grandes figurões, para arranjarem posições e lugares rendosos.
Toda a gente sabe como o pessoal eclesiástico consegue manter a influência sobre os seus discípulos, mesmo depois de terminarem os seus cursos. Anatole France, em L'Église et lu République, mostrou isso muito bem. Os padres, freiras, irmãs de caridade não abandonam os seus alunos absolutamente. Mantêm sociedades, recepções, etc., para os seus antigos educandos; seguem-lhes a vida de toda a forma, no casamento, nas carreiras, nos seus lutos, etc.
De tal forma fazem isto que constituem uma espécie de maçonaria a influir no espírito dos homens, através das mulheres que eles esposam.
E os malandros que sabem dessa teia formada acima dos néscios, dos sinceros e dos honestos de pensamento, tratam de cavar um dote e uma menina das irmãs, o que vem a ser uma e única cousa.
Disse-nos um velho que conheceu escravos na Bruzundanga que foram elas, as irmãs dos colégios ricos, as mais tenazes inimigas da abolição da escravidão. Dominando as filhas e mulheres dos deputados, senadores, ministros, dominavam de fato os deputados, os senadores e os ministros. Ce que femme veut...
Na Bruzundanga, onde os casamentos desastrosos abundam como em toda a parte, não é lei o divórcio por causa dessa influência hipócrita e tola, provinda dos ricos colégios de religiosos, onde se ensina a papaguear o francês e acompanhar a missa.
Esta dissertação não foi à toa, em se tratando de política e políticos da Bruzundanga, porque estes últimos são em geral casados com moças educadas pelas religiosas e estas fazem a política do país.
Com esse apoio forte, apoio que resiste às revoluções, às mudanças de regime, eles tratam, no poder, não de atender as necessidades da população, não de lhes resolver os problemas vitais, mas de enriquecerem e firmarem a situação dos seus descendentes e colaterais.
Não há lá homem influente que não tenha, pelo menos, trinta parentes ocupando cargos do Estado; não há lá político influente que não se julgue com direito a deixar para os seus filhos, netos, sobrinhos, primos, gordas pensões pagas pelo Tesouro da República.
No entanto, a terra vive na pobreza; os latifúndios abandonados e indivisos; a população rural, que é a base de todas as nações, oprimida por chefões políticos, inúteis, incapazes de dirigir a cousa mas fácil desta vida.
Vive sugada; esfomeada, maltrapilha, macilenta, amarela, para que, na sua capital, algumas centenas de parvos, com títulos altissonantes disso ou daquilo, gozem vencimentos, subsídios, duplicados e triplicados, afora rendimentos que vêm de outra e qualquer origem, empregando um grande palavreado de quem vai fazer milagres.
Um povo desses nunca fará um haro, para obter terras.
A República dos Estados Unidos da Bruzundanga tem o governo que merece. Não devemos estar a perder o latim com semelhante gente; eu, porém, que me propus a estudar os seus usos e costumes, tenho que ir até ao fim.
Não desanimarei e ainda mais uma vez lembro, para bem esclarecer o que fica dito acima, que o grande Bossuet disse que a política tinha por fim fazer a felicidade dos povos e a vida cômoda.
A Águia de Meaux - creio eu - não afirmou isso somente para edificação
de algumas beatas...



Diálogo entre as obras:
 

Estas obras unem-se por meio da temática que apresentam a Política. Por conta disso, elas possuem pontos em comum, porém também possui pontos que se distanciam. Sejam-nos a seguir.
Contexto literário.
  •    Considerado um clássico da literatura brasileira, A sereníssima República, de 1882, é um dos contos a qual pertence à coletânea “Papéis Avulsos” de Machado de Assis, que tem como estilo literário o Realismo.
  •        Pertencente ao movimento pré-modernista, Os Bruzundangas é um romance póstumo de Lima Barreto, publicada em 1923.
Quanto à crítica.
  •          Em A sereníssima República, Machado de Assis revela bem a sua crítica contra alguns elementos que compõem o Segundo Império, como a corrupção e fraude eleitoral; tráfico de influência; a idéia de que na prática uma teoria possui falhas e que podem prejudicar as decisões políticas em função dos benefícios de alguns.
  •    Lima Barreto apresenta em sua crítica os mesmos aspectos dos de Machado, contudo a crítica de Os Bruzundangas se estende também ao racismo, à pobreza, à educação e ao enriquecimento dos políticos e seus familiares a custa do povo, bastante presente no período da República Velha.
Ø  Através desses textos, percebe-se os diferentes contextos com que a corrupção mostra-se no Brasil, desde o tempo do Primeiro e Segundo Reinado.

A maneira como a crítica apresenta-se e sinopse. 

  •   Surpreendendo novamente os seus leitores, Machado de Assis conseguiu criar um ambiente fictício, que pudesse representar, em A sereníssima República, metaforicamente que, até nos sistemas de governo mais simples, estes apresentavam irregularidades e corrupções políticas. Nessa narrativa, Machado utiliza o cenário de uma conferência acadêmica, em que o cônego Vargas apresenta um estudo sobre uma nova espécie de aranha, reunindo um salão repleto de senhores (motivados pela curiosidade e pelo interesse científico), a qual tinha uma linguagem própria e com rico e variado campo léxico, daí a sua complexidade. Através dessa descoberta, o cônego consegue montar um sistema de governo que pudesse ser utilizado por essa espécie aracnídea. Sob esta estrutura, a crítica “desenrola-se” ao longo do conto.
  •  Em Os Bruzundangas, o autor cria um país fictício que se assemelha em muitos com o Brasil, seja pelas riquezas naturais, pela diversidade cultural ou pelos diversos tipos de corrupção existentes nesse país, Bruzundanga, em que a crítica toma forma sobre esses aspectos. O romance conta a história de um brasileiro que viveu por algum tempo em Bruzundanga, em que ele satiriza, através da crítica, a organização cultural, econômica e, principalmente, política. Desta forma é que o leitor percebe a analogia que há entre Bruzundanga e o Brasil.
Ø  Em ambos os textos é perceptível à maturidade lingüística com que os autores conseguiram produzir suas obras, por meio de narrações fictícias, com as quais puderam ilustrar as críticas e torná-las implícitas em metáforas, personificações e analogias.



Conclusão.


            A grandeza literária machadiana está até hoje presente e influente no país, em parte devido à crítica sempre constante em suas obras, seja romance, crônica, ou conto. Em A sereníssima República, esta característica segue muito presente, sendo ainda somada uma marca registrada de seus textos, a ficção (já que foi com ele que esse gênero desenvolveu-se plenamente), e também a presença da analogia, da personificação, do sarcasmo e das metáforas. Estas características tornam a obra um dos clássicos brasileiros.
            Essa grandiosidade lingüística de Machado deve-se também a abrangência que os temas e a forma com que são desenvolvidos; o que proporciona o diálogo de suas obras com a de outros autores sobre o mesmo tema, como foi o caso de Os Bruzundangas, visto neste trabalho. Contendo a analogia e o sarcasmo mais explícitos do que os de A sereníssima República, este livro de Lima Barreto possui muita crítica a política brasileira, a qual é o tema que une este romance ao conto.




Bibliografia.


  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Bruzundangas
  •  http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Seren%C3%ADssima_Rep%C3%BAblica
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Machado_de_Assis
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Pap%C3%A9is_Avulsos
  •  http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_2098.html
  •  http://www.superdownloads.com.br/download/42/bruzundangas-lima-barreto/
  •  Machado de Assis para principiantes - Organizador: Marcos Bagno / Editora Ática.
  • Os Bruzundangas - Autor: Lima Barreto / Coleção Prestígio / Editora Ediouro.

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